14 de jan. de 2010

Por medo ou por amor ?



"IMAGINE QUE HOUVE um rei que amasse uma moça humilde, principia uma história de Kierkegaard:

Não havia rei como ele. Todos os estadistas tremiam diante de seu poder. Ninguém ousava pronunciar uma palavra contra ele, pois este rei possuía a força para esmagar todos os oponentes. E, ainda assim, esse poderoso rei derreteu-se de amores por uma moça humilde.


Como podei declarar seu amor por ela? Por ironia, sua própria realeza deixava-o de mãos amarradas. Caso a trouxesse ao palácio, lhe coroasse a cabeça com jóias e lhe vestisse o corpo com vestes reais, certamente ela não resistiria - ninguém ousava resistir-lhe. Mas ela o amaria? É claro que dia que o amava, mas ama-lo-ia de verdade? Ou iria viver com ele temerosa, secretamente se lastimando pela vida que havia deixado para trás? Seria feliz ao se lado? Como ele poderia saber?


Caso fosse na carruagem real até a cabana dela na floresta, com uma escolta armada balançando imponentes estandartes, isso também a atordoaria. Ele não desejava uma súdita servil. Desejava uma amante, uma igual. Desejava que ela esquecesse que ele era rei e ela uma moça humilde e que deixasse que o amor partilhado vencesse o abismo existente entre eles.

"Pois é somente no amor que o desigual pode ser feito igual", concluiu Kierkegaard. O rei, convencido de que não poderia fazer a moça melhorar sua condição social sem reprimir sua liberdade, decidiu rebaixar-se. Vestiu-se de pedinte e aproximou-se da cabana incógnito, com uma capa surrada, frouxa, esvoaçando ao seu redor. Não era um mero disfarce, mas uma nova identidade que assumiu. Renunciou ao trono para ganhar a mão dela.


O que Kierkegaard expressou em forma de parábola, o apóstolo Paulo expressou nestas palavras acerca de Jesus, o Cristo:

Cristo Jesus... subsistindo em forma de Deus,
não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
antes a si mesmo se esvaziou,
assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens;
e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou,
tornando-se obediente até à morte,
e morte de cruz.
Filipenses 2:6-8

Em seu trato com seres humanos, Deus havia frequentemente se humilhado. Leio o Antigo Testamento como um único e longo registro de suas "condescendências" ("descer, rebaixar-se para estar com").
Deus, tal como o rei na parábola de Kierkegaard, assumiu uma nova forma: tornou-se um homem. Foi a descensão mais chocante que se pode imaginar."

Decepcionado com Deus - Philip Yancey

"Já era muito que, como Deus, o homem fosse feito outrora,
Muito mais, porém, que, como o homem Deus se fizesse agora."

John Donne







2 comentários:

Manoel Gilliard P. de Sousa disse...

Massa Will! essa Kierkegaard escreve muito bem! só não entendi o texto do Donne (rss)...abração!

wilsimples disse...

A frase foge um pouco do foco que queria trazer, mas mesmo assim coloquei, quiz relacionar com o versiculo rs..

obrigado pelo comentário !